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Contra repressão!


resolução política da CN-ABEF para o I Encontro da APROFFESP


resolução política da Coordenação Nacional (CN) da Associação Brasileira dos Estudantes de
Filosofia (ABEF) para o I Encontro da Associação de Professores de Filosofia e Filósofos do
Estado de São Paulo (APROFFESP)

“A filosofia e seu devir, a contingência da práxis e o nosso horizonte”

Como ponto de partida, nós da CN-ABEF, saudamos a iniciativa do grupo que encabeçou a criação da APROFFESP, que tem como pressuposto a necessidade de organização, ainda que em sentido estadual mas que já aponta em seus debates a necessidade de colocar no marco nacional também a organização dos professores de filosofia e filósofos, pautando, sobretudo, a filosofia, caracterizando a situação em que o pensamento filosófico se encontra, e nós, que somos, em grande escala, professores, devemos pensar na práxis entre unidade de teoria e prática, discurso e ação, forma e conteúdo.

Filosofia é somente contemplação?

Aqui cabe perguntar a tradição que tem como postulado rígido que a filosofia é somente contemplação. Ainda que a observação, evidentemente, é uma condição substancial do filósofo, tendo como expressão imagética o que Hegel compara a filosofia com a coruja de minerva, ao dizer que “a coruja de minerva alça seu vôo somente com o início do crepúsculo”. E uma certa tradição imperou considerando a filosofia como um pensamento que tem como princípio fundamental a contemplação e o afastamento da ação, da prática que não seja unicamente a contemplação.

Mas se tomarmos a própria figura da coruja, somos levados a pensar em que o crepúsculo é o linear do dia para a coruja, enquanto cessamos nossas obras e nos recolhemos em nossos lares, a coruja “alça seu vôo”, a trabalho. É a noite que a fascina, por isso seu nome em latim: noctua, ave da noite. Não é a beleza seu destaque, mas é a capacidade de ver o que as aves diurnas não conseguem ver. Seu pescoço gira 360%, dando-lhe uma visão completa capacitando ver o todo. É também uma ave de rapina, rápida na escolha, e que por ver a presa e não ser vista, sempre tem sucesso na caça, apanhando os despreparados e desprovidos que se arriscam na noite escura.

Inclusive vale apontar que um dos grandes nomes da filosofia, Platão que desenvolveu suas idéias ou
dizendo melhor, desenvolvendo as idéias dos personagens acerca da “cidade justa” no diálogo República, segundo diversos relatos, teve oportunidade de tentar por em prática tais fundamentos filosóficos, sendo preso e sendo resgatado por filósofos que pagaram sua libertação, e tendo como “readequação” dos pensamentos, expressos nos personagens no diálogo “Leis”, onde, ao invés do filósofo-rei governar as cidades, esta deveria ser governada por “conselhos noturnos”, eleitos na ágora das pólis.

Esta breve ilustração nos mostra que, ainda que a filosofia deva ser observação e contemplação, a tradição que a limita a isso, desenvolve em vários graus e em diversos âmbitos a separação das idéias do mundo, a forma e seu conteúdo, o discurso e a ação, a teoria e a prática. Em síntese: ceifa a síntese bela e poética da imagem da coruja, descrita acima.

A contingência da práxis

Segundo Jean Paul Sartre no texto Marxismo e Existencialismo, dentro da obra “Questões de Método, diz: a Filosofia não existe; sob qualquer forma que a consideremos, esta sombra da ciência, esta eminência parda da humanidade não passa de uma abstração hipostasiada. De fato, o que há são filosofias. Ou melhor – pois não encontrareis nunca, em um momento dado, mais do que uma que seja viva – em certas circunstâncias bem definidas, uma filosofia se constitui para dar expressão ao movimento geral da sociedade; e, enquanto vive, é ela que serve de meio cultural aos contemporâneos.

Essa visão tem seu interesse, sobretudo por entendermos as filosofias como representações situados no tempo-espaço, em seu ponto histórico. E podemos ver que em pontos cruciais, ou para dialogar com a mitologia grega, Kairós, que significa o tempo não humano,não-linear, tempo enquanto momento oportuno, em potencial, podemos ver determinada contingência onde o sujeito da filosofia, a filósofa/o filósofo não é um mero espectador, mas tem a sua filosofia como práxis, com todos os seus limites, apontando na teoria e na prática, “a coruja que enxerga em 360 graus, e que também sabe rapidamente ir atrás da caça”.

Essa nossa concepção vai diametralmente oposta à tradição ampla que tem como consequência mais recente (e também trágica) na abordagem feita pela historiadora da filosofia, Olgária Matos, também
idealizadora do projeto “pósfrankfurtiano” da EFLCH/UNIFESP-Guarulhos no programa Provocações de Abujamrra, quando esta diz que “a filosofia jamais será atuante”, entre outras aberrações proferidas por esta que formulou o projeto pedagógico da universidade que, ao menos na cidade de Guarulhos, está “formando” grande números de professores que estão indo às escolas preencher as lacunas da falta de
professores no Estado, sobretudo.

Visto isso, penso que nossa alvorada é justamente pensar (e criar) as condições de possibilidade de harmonizar o caráter reflexivo e atuante da filosofia e de seus sujeitos e protagonistas. Ousaríamos dizer que esse deve ser o fio condutor de uma programa político expressão tão cara para os filósofos de hoje. O que resulta que seu incomodo é de limpar a sujeira que virou uma crosta grossa e pesada por trás do pensamento filosofico mais genuino e autentico, e que o incômodo parece ser um sinal do acerto.

Filosofia e História da Filosofia

Pensamos que essa temática, esse conflito, hoje ganha expressão aguda, quase traumática no debate entre filósofos, ou aspirantes a esse nome. A intensificação da ruptura é escancarada nas Academias, Escolas e Universidades, onde passase pelos grandes nomes da Filosofia em História da Filosofia Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, que produziram um pensamento sobre as questões do seu tempo, e nós próprios, não realizamos o que esses autores fizeram em suas épocas. E acrescentase
contornos “interessantes” pela particularidade de nosso país, o Brasil, ao considerar sua formação histórica, e sua constituição cultural e intelectual.

Com isso, não queremos levar os presentes a serem levados a pensarem que nós queremos refutar, de forma absoluta, o estudo de autores-obras da História da Filosofia, mas isso tem um limite, e que é preciso superar esse limite. Relação análoga ocorre com a leitura estrutural que tem validade até certo ponto e quanto a determinados autores, mas que impede de alçar vôos mais altos, mais largos e mais profundos.

Tendo isso em vista, que entramos no curso de filosofia, e nos tornamos historiadores, ainda que seja a história da filosofia, que realizamos como estudantes/estudiosos e como professores?

Filosofia e Ensino

Amplos autores dentro da História da Filosofia tiveram como escopo de trabalho para suas reflexões o espaço da sala de aula; muitos foram professores de Escolas, Academias e Universidades. Mas nem todos. Outros ligados à Igreja e suas instituições seculares. Outros, à margem, realizavam um produto filosófico alheio às instituições.

Ainda que muito deva ser debatida a respeito disso, pensamos que o que se chama por “filosofia no ensino médio”, “didática da filosofia”, “a questão de licenciatura da filosofia”, parece-nos que o problema da licenciatura é, já,o problema da própria filosofia, pelo que expusemos até aqui e pelo debate que faremos.
O problema da licenciatura/ensino de filosofia não é um âmbito do problema, mas uma expressão que mostra a “ponta do iceberg” em que a filosofia se situa, em seu sentido histórico, de modo processualmente constituído.

Começaria indicando um problema próprio do que damos, modernamente, o nome de educação; que também incorpora a filosofia. A saber, a concepção ora teórica, ora prática; ora delibera e consciente, ora inconsciente de que o professor, que sendo um possível detentor de (dado) conhecimento, passa aos alunos, com o acúmulo de “saberes”. Essa concepção tem problemas nefastos, e hoje isso não pode passar desapercebido.

Pensamos, juntamente com o dramaturgo alemão, Bertolt Brecht, quando diz que: “quem não está disposto a estudar não deve ensinar, o professor deve ensinar a estudar.” E, seguindo essa linha, penso que esse I Encontro da APROFFESP, devemos discutir, em profundidade o caminho que pensamos em percorrer para que possamos desenvolver, como expressão largamente utilizada de “projeto político-pedagógico”
a formação enquanto processo de desenvolvimento do pensamento, um ensinar a estudar.

Podemos passar por toda a filosofia, sem necessariamente passar todas elas. Aqui a imagem turva é um espelho para elucidar como as coisas estão ao avesso. Ao passar, como uma historiografia da filosofia, por todos os filósofos, ou muitos deles, como atualmente se faz em larga escala, devemos nos perguntar o que isso contribui no sentido de uma formação filosófica nas escolas da educação básica e também no ensino superior. A resposta se dá mais na prática do que nos argumentos de defesa dos historiadores da filosofia.

E, o que parece-nos acertado, é um encontrar um método, que do grego, significa, caminho para chegar a um fim, de algum ou alguns autores-obras que contribuam para a compreensão filosófica, fazendo o texto dialogar com toda a tradição anterior e posterior a ele, passando por diversos tempos históricos, tomando as influências de dado pensamento, e os influenciados pelo mesmo; criando, assim, um labor em sala de aula menos técnico e mais profundo no sentido da formação (tanto do professor como do estudante).

Assim, o aspirante a filósofo de hoje (que não pode ser mais um Sócrates ou tantos outros que podiam filosofar às custas de uma classe laboriosa na produção de valores de uso de toda uma sociedade, a saber, os escravos que realizam “o grosso da produção”) tendo como sua situação material a condição de assalariado, é levado a que esteja cristalizado nas instituições o seu aprisionamento e também a sua libertação.

Hoje, as Instituições Educacionais como escolas, academias e universidade, e as secretarias e ministério da Educação enquadra, esmagam a atividade educacional, aprisionando um professor, que tem expressão e analogia (sobretudo na escolas públicas estaduais da grande São Paulo do respectivo Estado) do professor como carcereiro, babá, apaziguador e técnico responsável por preencher diários com a finalidade de seguir a progressão continuada, mas rendendo pontos consideráveis para que os governantes utilizem como estatística. Mas, ao mesmo tempo, e nessa mesma medida, somos impelidos a organizarmonos
contra esse atual estado de coisas, e apontar o caminho da libertação do involucro que transforma a filosofia, as ciências, e tantos outros saberes da humanidade, em mercadorias dispostas na prateleira, com
sua funcionabilidade em detrimento do capital.

Assim, nosso horizonte é o horizonte de criar as condições de trilhar o caminho para libertar a filosofia e tantos outros elementos que a humanidade forjou, criou, rompendo o invólucro que asfixia esses saberes ricos em potência, mas ainda não realizadas em ato, de modo substancial em nossa relação tempo-espaço.

Alguns apontamentos propostivos da ABEF para avançarmos

A ABEF propõe que seja constituido um grupo de trabalho que realize debates, discussões que
vise aprofundar esse aspecto da crise da filosofia que ganha enunciado na questão “Ensino e
Filosofia”

Propomos diálogo, liberdade de crítica e unidade entre as entidades ABEF e APROFFESP
...

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