NOTA A RESPEITO DE MINHA SAÍDA DA COORDENAÇÃO NACIONAL DA ABEF
NOTA A RESPEITO DE MINHA SAÍDA DA COORDENAÇÃO NACIONAL DA ABEF
Caros
Coordenadores da gestão da ABEF, assim como estudantes de filosofia e demais
ativistas e militantes das demais organizações que, de algum modo, tiveram
contato com esta entidade, venho por meio desta “nota”, comunicar meu
afastamento, ou melhor, minha saída dessa gestão da Coordenação Nacional da
ABEF.
Procurarei
ser breve, mas as explicações necessárias me levam a que eu não seja tão breve.
Me afasto, ou melhor, saio de uma entidade nacional cujo papel é organizar (em
primeiro lugar) e representar (como consequência, a meu ver) os estudantes de
filosofia. As motivações são desde as mais “pessoais” e “privadas”, até as mais
profundas, isto é, políticas. E sendo uma motivação política, por excelência,
que é o motivo fundamental da minha saída, me deterei nela.
O COBREFIL 2012 em Pelotas e a “criação” da atual gestão
O
Congresso ocorrido em Pelotas, ao qual possuiu muito mais um caráter acadêmico
que político e que um debate acerca do Estatuto ocorreu apesar do calendário de
atividades, e não havendo tempo, antes da PNEB, para se estruturar um debate
acerca desse ponto, foram as “condições concretas” em que foi eleita a nova
Coordenação Nacional.
Na
Plenária Nacional de Entidades de Base, PNEB e na Assembleia do Congresso
(COBREFIL 2012), muito tempo foi utilizado para decisões de caráter mais geral,
o que é natural. Essas discussões se materializaram nas decisões votadas e
transformadas em deliberações congressuais. Contudo, não houve espaço profícuo
para a discussão profunda de aspectos mais profundos, como os porquês dos
problemas profundos da entidade nacional, sua relação com as regionais.
Eu
havia formulado cerca de uma página com um texto que era breve análise, fazendo
alguns apontamentos gerais que dariam um norte político para uma provável
gestão a ser eleita. Contudo, na ausência de uma discussão, e diante da
“necessidade de ter uma Coordenação Nacional”, eu e outros delegados decidiram
entrar na gestão, sem uma discussão mais profunda. Isto é, pessoas com posições
das mais variadas, e expressando interesses antagônicos, mas ainda imersos,
entravam para ser a direção da entidade pelo período de um ano.
Após
a decisão da próxima Coordenação Nacional, diante de debates de mais de 14
horas, os membros da atual CN fizeram uma reunião, que temos a ata, e
percebe-se que decidíamos o que era possível decidir no momento: questões
técnicas e organizativas. Ou seja, um começo que tem sua forma de um modo equivocada
não se “ajeita” sem grandes esforços. Essa é a nossa sina, sina da atual
gestão.
O início da gestão até o ENEFIL: os primeiros seis meses de “atuação”
De
imediato, é necessário reconhecer que não fizemos um bom trabalho nos primeiros
seis meses que estivemos na gestão. Contudo, toda crítica deve ser acompanhada
pelo entendimento profundo das causas, motivos, circunstâncias; em suma, das
condições concretas em que os erros ocorreram. Realizávamos reuniões virtuais
onde a maioria da gestão participava, e tentamos uma organização por seção
(agitação e propaganda, finanças, jurídica) e penso que a falta de afinidade
política, a falta de objetivo e uma estratégia nos podaram. Uma gestão há de
ter um programa político de gestão para se colocar como a direção da entidade
em causa. E o programa se faz real, prático, com uma estratégia geral e as
táticas pontuais e particulares que se manifestam no dia a dia da vida
acadêmica e política (no caso, dos estudantes de filosofia).
Tiramos
encaminhamentos, mas que na maioria dos casos, não avançaram
significativamente. E os nossos planos, que foram “sumindo” com o passar dos
meses e as reuniões deixando de ocorrer, ou com a tentativa de democratizar
demais as decisões, se tornaram obstáculos a nós, criados por nós próprios.
Para
tornar claro, a questão do “democratizar”, é importante salientar que nós
ficávamos emperrados por discutir cada aspecto, cada ponto, e muitas vezes temíamos a decisão por maioria, buscando
o caminho do consenso, fazendo com que muitas coisas não avançassem, não fossem
encaminhadas.
Após
passarmos o período de férias de final de ano sem conseguirmos nos reunir (pela
internet), chegamos, pois, ao ENEFIL, e fomos duramente criticados por um setor
dos estudantes (e corretamente criticados), agora outro setor aproveitou isso
para tentar criar uma ruptura com essa entidade, procurando boicotar a PNEB,
entre outras ações que só enfraquecem a unidade na construção da entidade, à
base de duras críticas, mas com um caminho organicamente unitário – o único
caminho em que a crítica faz fortalecer o que se critica.
Minha posição do Enefil em diante e o desgaste subsequente
Fui
totalmente claro em reunião dos membros da CN presente no Enefil 2012 que
deveríamos criar um blog para efetivar nossa comunicação e articulação com os
estudantes, que deveríamos trabalhar para um Cobrefil altamente politizado,
para aí sim criar as bases para uma gestão que pudesse fazer o que nós
almejávamos, mas não conseguiríamos fazer. Muitos discordavam de mim, e achavam
que deveríamos fazer diversas atividades, mas sem um elo entre essas
atividades; e portanto, sem um objetivo mais preciso, sem um devir, sem pensar
em como tais ou quais atividades poderiam ser “elos da corrente”, e para onde
queríamos que essa corrente fosse.
Contudo,
isso não significava abandonar tarefas, mas muito mais pensar politicamente as
tarefas as quais deveríamos nos dedicar em tal momento. Somado a isso, a
maioria dos presentes em reunião, aproveitaram para decidir, não por
unanimidade, mas pela maioria da gestão presente, que não faríamos mais reuniões virtuais e que tudo seria decidido por posts
no facebook, no grupo da gestão. Essa era a brilhante deliberação ao qual a
gestão foi destinada. Minha divergência era e é clara, na qual eu falei e
continuo falando que é uma cegueira, na medida em que não se combinava formas
de decisões. Erro parecido quando decidiram não termos blog, mas apenas um site
no facebook. Após as críticas da PNEB, consegui que revêssemos esse ponto, e
decidimos por ter um BLOG, ao qual fiquei encarregado e publicando (mesmo
assumindo que ele vem “tarde”).
Do ENEFIL ao COBREFIL: a gestão em crise
Pouca
coisa, de prático se fez após isso. Contudo, a desintegração real, não
necessariamente aparente (a todos) se impôs. Algumas ações ficaram emperradas,
e a convivência respeitosa, em alguns momentos, era coisa que não se via.
Somando-se a toda a situação, a única coisa que importava era “e o COBREFIL”,
como e quando seria tal evento – entrando em antagonismo com o que acordamos na
eleição da gestão, “que a CN-ABEF não deveria existir apenas para tocar o ENEFIL e o COBREFIL”.
Claro
que o COBREFIL precisava (e precisa) ser pensado, mas nada mais era pensado e
avançado. Estagnação total! E isso na situação onde estava pendente a
publicação do Estatuto com as modificações das resoluções congressuais, e ainda
está pendente as atas e resoluções congressuais, assim como a ata do PNEB do
Enefil e o Edital do Cobrefil aprovado na mesma PNEB referida acima. Isto é,
tínhamos trabalhado, temos trabalho acumulado, e cruzar os braços e falar
grosso, muitas vezes de forma desrespeitosa não contribui, muito mais o
contrário. Se como gestão tivessem tocado as outras pendências, problemas seriam
bem melhor encaminhados e melhor resolvidos – inclusive o problema do Cobrefil
não conseguir ocorrer em SP como prevíamos.
Essa
letargia não é apenas uma sucessão de acontecimentos, como causas sucessivas,
penso eu. Seriam, muito mais, fenômenos de um problema profundo. Vamos a eles.
A trágica Servidão Voluntária
Penso
que o principal problema é exatamente esse, oriundo de uma gestão formada como
se formou e relatada aqui (muito brevemente!). Muitas vezes a gestão padecia
por falta de orientação, ou sua orientação era ziguezagueante. E, ao invés dos
membros executarem o que eles criticavam, seu foco era fazer a crítica numerosa
aos membros que se propunha fazer, orientar, apontar, e redigir documentos.
Sendo eu um dos membros mais ativos nesses pontos (que evidentemente, e por uma
ironia trágica, são questões internas e que não se expressam tão publicamente
para o conjunto dos estudantes de filosofia, justamente por esse modus operandi da gestão).
Claro
que uma gestão deve atuar praticamente, mas existem práticas e práticas, e
ainda mais como estudantes de filosofia, devemos pensar que práticas queremos
realizar e qual seu devir. Qual é o projeto ou programa que temos, e que
estratégia temos em nossas mãos? Perguntem isso aos membros da gestão que eles
não serão capazes de responder. Sabe por quê? Porque cada um tem uma ideia
disso, uns de forma mais clara, outros menos, e essa gestão não expressa o
acordo comum de uma política para determinada gestão, para serem um direção
para os estudantes de filosofia.
Minha saída da CN-ABEF, ainda que tardia
Devido
às divergências aqui brevemente expressadas, e diante de problemas estruturais
dessa gestão, não há sentido de minha permanência na Coordenação Nacional.
Ficar nela, nas atuais condições é encobrir, é sustentar no nível da aparência,
impossibilidade de caminhar corretamente a superação de tais problemas. Esses
só podem vir de uma conjuntura política que leve os estudantes a se elevarem
politicamente para fortalecer suas entidades como verdadeiras ferramentas para
a luta e sua organização, combinado com uma sóbria discussão com divergências,
mas sem infantilismos, de como criar as condições para uma “outra conjuntura” –
que não se fará pela nossa vontade, mas nós devemos olhar para ela, e
prepararmo-nos para ela.
Somente
um COBREFIL devidamente estruturado para este fim, rompendo com a “herança
maldita” do academicismo que impere em nossos Encontros e (até!) Congressos, e
pondo na ordem do dia as nossas próprias dificuldades em Grupos de Discussões e
Plenárias e Assembleias, para fortalecer a entidade nacional dos estudantes de
Filosofia. Me manifesto que farei declarações nos eventos que forem
necessários, mas vejo como grande perda de tempo comparecer no próximo Cobrefil
se sua estrutura ainda estiver atrelada ao academicismo imperante. Mesmo que o
discurso seja que “desse modo a Universidade autorize o evento”. Ora,
independência política existe um preço.
Qual
nosso interesse? Realizar o COBREFIL a qualquer custo? Para que? Para realizar
o que? Uma viagem a mais no “curriculum lates” da social de estudantes ou para
empreender uma verdadeira discussão política propositiva?
E
cabe ainda, refletirmo-nos sobre o porque da existência de Executiva de Cursos.
Ora, basta estudarmos a história das mesmas para sabermos que ela tem
existência no Brasil após a UNE ser posta, durante a ditadura militar, na
clandestinidade, sendo “uma via”, criar Executivas de Curso, que sob o véu de
um “caráter acadêmico”, poderia fazer parte do trabalho político que a UNE fez
na ditadura militar – penso eu, único momento que a UNE teve um papel
revolucionário, correto, político em sentido de luta e não em sentido
oportunista – e que na nossa conjuntura política no país, em que medida nos
cabe fortalecer executivas de curso, ainda que com a proposta de um FENEX; ou
caberia muito mais uma luta profunda em uma unitária entidade estudantil que
levasse a cabo toda discussão setorizada dos cursos ou áreas de cursos (a
saber, Humanas, Exatas, Biológicas).
Não
me refiro a que o caminho é ir para a UNE, ANEL, etc. Isso é vulgarizar uma
reflexão. Ambas as entidades estão no lodo do oportunismo político, e afastadas
de uma verdadeira organização política dos estudantes de um modo
revolucionariamente correto – claro, cada uma a sua maneira. E também não sou
partidário de se criar uma “nova entidade nacional” perfeitinha no papel, e
“convidar” os estudantes a estarem nela, num “venha a nós, o vosso reino”. Mas
que olhar atentamente para a conjuntura, e debate-la, deve por em questão a
própria existências de Executivas de Curso e a questão das entidades nacionais
e posicionarmo-nos quanto a isso – claro, isso se o horizonte for a de ter, de
modo efetivo, uma grande organização estudantil para a luta.
Ass. Bruno Henrique de Souza Soares
ex-membro da atual coordenação nacional
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Depois tento desenvolver algo mais elaborado, pois o tempo está contra minha pessoa neste momento, mas de forma bem resumida, acredito que boa parte desse dilema presente nos encontros de estudante de Filosofia no Brasil se dá TAMBÉM porque o Cobrefil e o Enefil são dois eventos separados.
ResponderExcluirTodos sabemos o quanto é difícil, senão impossível, levantar 2 ônibus por anos junto às Pro Reitorias de Assistência Estudantil de nossas instituições, fora uma série de impedimentos letivos e econômicos.
Porquê não trabalharmos na ideia de unificação do Cobrefil e Enefil, modelo do qual tantos outros cursos apresentam !?
Outra coisa: A Abef é uma associação, certo ? No quê essa associação coincide com a prerrogativa de uma Executica Nacional ? Porque pelo que percebi, o que os estudantes necessitam é de Executivas, que articulem nacional, regional e estadualmente os espaços de construção pela base no resto do ano - não adianta nos reunirmos 1 vez a cada ano num evento superestrutural sem um acúmulo de discussões nas bases.
O problema não está somente na Abef, mas na apatia e no imobilismo dos estudantes em geral, de modo que as bases são co-responsáveis pelo que está posto. A representatividade demonstra cada vez mais seus limites. É uma crise de organização, que retro-alimenta a crise de direção.
Enfim, espero desenvolver algo posteriormente.
É hora de fazeer um fórum nacional de debates e organização! Por favor, FAZ UM FÓRUM LOGO, não poderei ir no Cobrefil '-(
ResponderExcluirIria propor isto lá. Um fórum de internet para horizontalizar a abrir um espaço próprio. FACEBOOK NÃO.
Exemplo de forum:
http://www.manifestobrasil.org/forum/